Talvez um cartunista pudesse expressar visualmente a ideia da evolução do brasileiro que nasce, engatinha, cresce, compra carro e volta a engatinhar ... no trânsito.

A indústria automobilística, responsável por um quinto do total da produção industrial, vivendo seu auge agora, tem sido o sustentáculo central da política produtiva por mais de 60 anos, liderando uma complexa cadeia econômica geradora de empregos e renda.  Por tudo isso e por outros fatores imponderáveis - como conforto, liberdade de ir-e-vir e status - dificilmente o carro cederá lugar ao transporte público. Nos últimos dez anos, a frota brasileira dobrou, tornando-se a quarta maior do mundo. 
 
Os novos motoristas aspiram mais asfalto nas estradas e nas ruas e menos multas e pedágio. Atentos ao fato, prefeitos que buscam a reeleição perceberam a mudança e aderiram rapidamente ao asfalto eleitoreiro. Este, viabilizado sempre no último ano da eleição e com o coincidente prazo de quatro anos de validade e qualidade, garante um considerável percentual da votação. 
 
A nova classe média tornou-se freguesa das concessionárias de automóveis e das revendedoras de usados, mas nem todos realizam o sonho do carro próprio: grande contingente ainda depende do transporte coletivo. Esta demanda vem da necessidade de deslocamento das pessoas que, agora, têm onde trabalhar e auferem renda, mas não realizaram o sonho do carro próprio. Querem transitar para gastá-la buscando o comércio, lazer e serviços.  
 
A tortura diária que imobiliza milhões de brasileiros, questão elegantemente chamada de mobilidade urbana, é inegável. A movimentação é intensa, exigindo rapidez, meios de condução de qualidade e considerável infraestrutura, hoje, encolhida. O problema cresceu, ganhou velocidade, o sinal fechou e, tudo indica, ninguém sabe onde fica o freio.