Como é formada a opinião pública e seus impactos nas prioridades da nação. Esse foi o principal foco da palestra do sociólogo Rogério Bonilha, diretor geral do Instituto Bonilha de Pesquisa de Opinião e Mercado, ministrada na Universidade da Indústria (Unindus), e que teve como tema "A opinião pública e as prioridades nacionais, regionais e comunitárias". Bonilha falou a empresários em mais uma etapa do Programa Líderes Empresariais na Política, realizado pelo Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) e Unindus. 

De acordo com o sociólogo, a opinião pública é formada por imagens e sentimentos que são valorizados gradual e coletivamente. É um pensamento compartilhado que se desenvolve pela interação de dois sistemas: o pedagógico e o da comunicação. "Para influenciar a opinião coletiva e, daí, buscar atendimento às prioridades de uma nação, como saúde, educação, segurança, é preciso agir através do sistema pedagógico, não no sentido da educação formal, mas sim na criação, assimilação e disseminação de ideias", afirma. Já o sistema de comunicação, segundo ele, é complementar ao pedagógico e composto pelos meios por onde a informação é transmitida. Seja boca a boca, seja pelas vias informacionais, de radiodifusão, televisivas ou virtuais. É um dos grandes responsáveis pela construção da opinião pública. 


Bonilha defende que a difusão de pontos de vista deve ser feita paulatinamente, de modo a explorar de forma cognitiva a receptividade dos indivíduos. Ele compara a opinião pública com as religiões que são formadas por proposições compartilhadas por unanimidade  em determinados grupos sociais. Na composição desse pensamento coletivo, diz o sociólogo, as ideias passaram por um ritual de aprendizagem e de difusão conceitual. "Se nós queremos espalhar pela sociedade pensamentos ou ideologias, é preciso trilhar por esse processo de ensino e aprendizagem que, muitas vezes, é moroso", afirma Bonilha. Para ele, é preciso ter uma visão holística da sociedade e trabalhar os grupos de acordo com os subsistemas sociais existentes. "Se existe uma intenção de transmitir e de condicionar pensamentos, formar crenças para que com base nelas as pessoas ajam conforme um plano é preciso criar uma consciência favorável nesse grupo, um consenso em determinados assuntos para que se tenha um comportamento, uma prática, uma ação na sequencia", diz. 

Bonilha afirma que a opinião pública espontânea é a mais comum, porém mais volúvel. É sustentada por indivíduos que, mesmo tendo opiniões divergentes, agem de acordo com a inclinação dominante. Um exemplo citado pelo palestrante é a pesquisa eleitoral. "Quando se pergunta a um cidadão - quem tem a maior chance de ganhar a eleição - ele aponta um candidato que não é, necessariamente, aquele em quem ele votará. Por que ele responde isso? Porque aprendeu informalmente, com a opinião pública, que determinado candidato desfruta de maior probabilidade de vencer", explica. 

Na palestra o sociólogo menciona que a história registra inúmeras tentativas de se fazer a modificação dos comportamentos através da influência que a mídia exerce sobre os indivíduos. No entanto, os resultados podem não ocorrer da forma esperada. "Os grupos dominantes acham que simplesmente através da veiculação de matérias ou da propaganda é possível mudar a opinião pública. Isso é um engano", diz. As técnicas de comunicação e marketing são imprescindíveis para isso, mas o contexto, as tendências e os personagens não devem ser desconsiderados. Essas iniciativas apresentam resultados melhores quando há suporte e embasamento em pesquisas. 

Ele considera a pesquisa um caminho para estudo das opiniões, sem o que se torna impossível influenciar positivamente os comportamentos da sociedade."Para impactar a sociedade precisamos saber qual é o perfil dos públicos mais sensíveis a serem sensibilizados. É preciso investigar as opiniões compartilhadas, as crenças, os debates em curso, as dimensões e alcance cultural desses públicos", diz. Somente por meio do direcionamento das ideias embasadas nos imperativos sociais seria possível sair do quadro atual por que passa a sociedade em que as prioridades se confundem. O sociólogo complementa: "quando a opinião coletiva é conquistada, é factível que uma comunidade ou uma nação em que imperam ações desnecessárias em detrimento das prioritárias, reverta o quadro e assuma uma democracia real e não somente a democracia do voto".