Aconteceu. Pesquisa qualitativa sobre marcas de bolsas,
calçados e acessórios. Clientes de lojas de classe média. Compradora usual de
uma rede nacional de lojas desses produtos relata o que observou em duas
ocasiões em que fazia compras num dos pontos de venda.
A dona da franquia entra, cumprimenta vendedores e
fregueses, retira a bolsa do ombro e a coloca sobre o balcão. Vistosa,
deslumbrante, uma das mais caras e prestigiadas grifes europeias.
Na outra ocasião, a cena se repete com outra personagem.
A protagonista agora é a filha da dona que, a exemplo da mãe, carrega nada
discretamente sua também valorizada bolsa estrangeira.
A cliente questiona o grupo focal atento ao relato: “isso
quer dizer que as bolsas da franquia não têm qualidade ou status suficiente
para serem usadas pelas proprietárias da loja?”.
Inconformada, prosseguiu dizendo que o acontecimento
passava uma clara mensagem para as freguesas: “comprem a marca que eu
represento e eu, com o lucro dessas vendas, compro as grifes que considero superiores
às que eu vendo a vocês”.
A participante do grupo de pesquisa complementou nada ter
contra o fato de empresárias bem sucedidas possuírem e exibirem suas marcas
preferidas. Apenas esperava que tivessem a sensibilidade de passar aos clientes
a ideia de que a marca que representam merece ser usadas também por elas. “Com
certeza”, argumenta, “existem lugares e ocasiões onde poderão mostrar suas
aquisições mais exclusivas”.