Qualquer que seja o resultado das eleições, a discussão da reforma política voltará à discussão e ocupará a pauta dos formadores de opinião e dos jornalistas no próximo ano. Consequência das sucessivas omissões, esquivas e, agora, do agravamento do quadro político nacional, a sua premência não mais bate à porte: entra sem cerimônias.

A questão envolve dezenas de facetas, todas elas se defrontando com barreiras imensas para qualquer consenso ou entendimento, ante os interesses cristalizados.  Mas um dos assuntos parece fugir à regra do inegociável, pois se coaduna e alicia a cobiça dos políticos, independentemente de cor partidária ou ideológica: o financiamento público das campanhas eleitorais.

DÁDIVA E DÍVIDA

Pesquisas já revelaram a posição dos eleitores ante a matéria. Embora a maioria não tenha conhecimento claro de como funcionaria esse procedimento, um expressivo número reflete sobre os dois lados: dádiva para os políticos avarentos e divida para os eleitores azarados. Esta ponderação ganha a concordância imediata dos cidadãos mais avessos à política, aturdidos com a ideia de tirar do próprio bolso recursos para financiá-la.

No papel de contribuinte, o eleitor se sentiria duplamente punido. Primeiro, ao ver desvirtuados os recursos que deveriam contemplar prioridades como saúde, segurança e educação, para um fim menos nobre, do seu ponto de vista. A outra penalidade, bancar a contragosto as eleições em todos os seus estágios e componentes. A começar, os candidatos e suas imagens assentadas em atos condenáveis.  Depois, desde o lixo nas ruas da propaganda eleitoral até a avalanche de denúncias, passando pela inconsistência das propostas nos horários eleitorais do rádio e televisão.

Os recursos públicos, concluiriam sem ingenuidade, serviriam de reforço extra para garantir maior sucesso aos que já têm assegurados os meios para a campanha. A desigualdade de forças na disputa eleitoral, entre os que podem mais e os que podem menos, permaneceria invicta, persistiria.

Eleitores alheios à reforma política