Os governos brasileiros, seja a nível federal, estadual ou municipal, recebem frequentes feedbacks das populações. Na última década, muitos milhões de reais foram despendidos em centenas de projetos de pesquisas contratadas por suas secretarias, fundações e entidades. 

Perscrutou-se exaustivamente tanto a demanda e os anseios, como seus sentimentos de aprovação e desaprovação. Até mesmo organizações internacionais de pesquisa investigam, periodicamente, a satisfação dos eleitores brasileiros. A Pew Research Center, por exemplo, num trabalho feito há poucos meses, apontava a percepção do povo brasileiro do descompasso entre o esperado e o realizado.

A impressão que a mídia está criando neste momento de manifestações, por meio das matérias e depoimentos, é de que os gestores da coisa pública não sabiam de nada e que foi preciso o povo falar alto nas ruas e nas infovias para esclarecer o que falta fazer e o que deveria ter sido feito. A resposta ao clamor popular, na contrapartida, é precipitado e medíocre. Nem poderia ser diferente, vinda de um modelo de administração em que a vontade própria dos seus executivos pesa mais do que os imperativos ditados pela realidade.

As pesquisas existem, sim, mas deslizam do seu papel precípuo que é colaborar com o progresso, incorporando-se ao planejamento. Infelizmente são destinadas a indicar os limites de tolerância entre ignorar ou atender os valores e necessidades da sociedade. Servem para indicar o risco que pode ser assumido para a inversão da pauta de prioridades: em primeiro lugar, como sempre, a do governo e dos seus interesses ou, a contragosto, abrir os ouvidos aos brados das multidões que hoje tomam as ruas.


Pesquisa de outono: Pew revela o que é importante e a satisfação do brasileiro com o tratamento das prioridades