A escolha recaiu
sobre as cores da cidadania e dos direitos individuais. É o que aponta um levantamento do Instituto Bonilha, baseado
numa amostra de 300 manifestações de brasileiros postadas no Twitter, que se
desdobraram em milhares de curtidas e compartilhamentos, conforme constatado.
A notícia sobre a declaração da Ministra da Mulher, Família e
Direitos Humanos, acompanhada do respectivo vídeo, ganhou espaço significativo
na mídia social. Multiplicaram-se os comentários, que não se limitaram ao
superficialismo.
Numa primeira
leitura, supõe-se que o público apenas desprezou
o retorno da moda do azul para menino e rosa para menina. No entanto, a coleta
e o exame do conteúdo de
posts das primeiras 6 horas, a partir da propagação
da notícia, expõe um impacto mais profundo causado pela frase.
A análise dos textos revela vários níveis de reações vindas daqueles que foram
sensibilizados pela proposição da
vestimenta de cor distinta para cada gênero. Vão desde as ingênuas preocupações com a “medida da ministra” até os descontentamentos permeados de ofensa e furor.
As opiniões mais moderadas referem-se à moda, a liberdade de
escolher a cor preferida para a vestimenta própria ou das crianças. Lembram que
tais cores clássicas estão em desuso há muitos anos. Dão exemplos de homens vestindo rosa e mulheres vestindo azul. Acrescentam fotografias da própria ministra
em azul.
Outros escolheram o
palco político e ideológico. O fato de uma
autoridade “ditar a moda”, mesmo metaforicamente, para filhos alheios,
atribuindo às cores a capacidade de definir a sexualidade, fugiu à compreensão
de muitos. Repudiaram a discriminação implícita na formulação da frase,
contrapondo a ela os princípios de igualdade de gênero e dos direitos humanos.
No deslanchar da polêmica, o governo
e presidente não foram envolvidos, ficando a conotação da questão cingida acentuadamente
à liberdade individual do cidadão, responsabilizando-se unicamente a autora da
expressão.
A questão das prioridades não foi ignorada nesse episódio: um
percentual expressivo pergunta se não haveria temas mais importantes para serem
tratados, tais como a inexistência do nome do pai no registro de milhões de
crianças, os números assustadores de estupros e a imensa quantidade de
assassinatos de mulheres.
Em resumo,
observou-se uma erupção de consciência de cidadania,
expondo uma sociedade menos preocupada com a escala de cores, ao contrário,
atenta aos fatos que afligem a população.
O Instituto Bonilha
ressalta que o Twitter é uma das plataformas da mídia
social e que a amostra isolada não representa a totalidade dos seus usuários.
Alerta também que as opiniões postadas no Twitter não representam o pensamento da sociedade como um todo, pois para conhecê-la é imprescindível a pesquisa
quantitativa conduzida junto à população e amostralmente representada em suas
diferentes classes sociais, gêneros e faixas etárias.
Excertos:
“É uma coisa tão
burra achar que cor de roupa vai definir alguma coisa”.
“Rosa e azul
nos remete a uma realidade dualista, distante da diversidade que marca o Brasil”.
“Em
democracias liberais do Ocidente, como EUA, França, Reino Unido, Canadá e
Alemanha, jamais um membro do governo diria para meninos vestir azul e meninas
rosa”.
“Isso é mais
comum em regimes extremistas como os da Arábia Saudita e do Irã”.
“Estado teocrático
do Brasil sendo instalado com sucesso”.
“Atenção, atenção.
É uma nova era para o Brasil”.
“Menino veste
azul, menina veste rosa e o Diabo veste Prada”.