O que estão chamando de crise é a imbricação de dois componentes: a situação econômica periclitante, em que os brasileiros foram colocados, com o seu perfil psicológico abalado, afetado em suas crenças e valores. Em democracias bem consolidadas, o caminho natural para mitigar crises é o acerto na escolha dos dirigentes do país. Mas, por aqui, a um ano de uma nova uma eleição, antevê-se um quadro de generalizada suspeição, um pleito marcado pela imprevisibilidade.
A indecisão tomou conta das mentes dos eleitores que votavam ponderadamente, levando-os ao desatino e ao desvario. O desgosto e a depressão arrebataram os corações daqueles cidadãos que votavam levados pela emoção de uma boa escolha. Os motivos para tais transtornos já estão se tornando "clássicos" na política brasileira: desconfiança nos candidatos e nos seus apoiadores (todos mentem, são desonestos e incompetentes em maior ou menor escala), desconfiança nas propostas e na propaganda eleitoral (os eleitores aprenderam o conceito depreciativo de marketing político), desconfiança na mídia (reconhecem que tanto os canais digitais como os tradicionais estão comprometidos com as intenções deste ou daquele candidato), desconfiança nas urnas eleitorais (são programadas para tirar o voto de um e passar para outro), desconfiança nos partidos (dezenas deles, pulverizados para confundir o eleitor) e desconfiança nas pesquisas (são manipuladas a favor ou contra).
A tendência de avaliar toda atividade política pelo lado ruim beira o non sense. Abrange até mesmo os parentes, amigos, vizinhos ou colegas (compartilham descrenças semelhantes, portanto são portadores de informações pouco confiáveis). As próprias manifestações públicas não ficam a salvo: tornam-se alvo do descrédito (os cidadãos estariam indo às ruas, ingenuamente, servindo ao propósito de algum partido ou justificando a ação de algum grupo de poder?). Soma-se a isso tudo a certeza de que a mudança de governo, seja qual for e por qual meio ocorra, não terá consequências imediatas ou profundas e, se um dia vier a acontecer, pouco beneficiará suas vidas. Perdura uma forte suspicácia, quase anárquica, de que o governo não serve para nada, não serve a ninguém, exceto a si mesmo.
Em 2016, mais um ciclo se completará. No dia da eleição, implacáveis, irritados e ressentidos, os eleitores estarão frente à urna, decidindo se irão reciclar os personagens da política por meio do voto branco, do voto nulo ou do voto em "qualquer desconhecido" ou se darão sobrevida "aos mesmos".
Milhões de
eleitores desiludidos farão a escolha dos novos gestores das cidades em 2016.
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