A discórdia saiu do âmbito doméstico, transbordou e ocupou as vias e infovias. Todavia, sabe-se de antemão que não há solução mágica restauradora da moralidade e da competência governamental, seja por meio de manifestações ruidosas, de reformas do sistema ou de ações judiciais. Paliativas, acabam em descrédito, conforme mostra a história do país.

Mas se o eleitor(a) e político(a) fossem considerados casal em conflito? Uma terapia de reaproximação traria paz para ambos? Claro, exigiria mudanças no comportamento de cada um dos lados.  Requereria forte força de vontade, pois algumas atitudes, de acordo com estudiosos, são inerentes a certos tipos de personalidade, a exemplo da corrupção e da incompetência. No entanto, para contrariar a impressão de que o mundo é assim mesmo, abandonado à própria sorte, talvez fosse oportuno seguir os passos do aconselhamento aos casais com problemas de relacionamento.

Recomendações de praxe

A primeira iniciativa é cessar o jogo da culpa. Você é culpado e eu não. Tentar avaliar com mais atenção todos os detalhes da relação entre político e eleitor. Desvendar o que há por trás, o que dá sustentabilidade às atitudes e comportamentos reprováveis. O fato é que o eleitor mediano apenas carimba o político, repete jargões da internet e, com isto, até acaba ingenuamente compondo massa de manobra para outros interesses que não percebe. É necessário haver um aprendizado sobre esta relação conflituosa. Não esquecer que a responsabilidade, na maior parte dos assuntos, recai em cinquenta por cento sobre cada um.

Outro ponto terapêutico: a mudança, ou seja, a forma de votar precisa ser repensada. A contradição de condenar e, logo após, no período eleitoral, consolidar os mesmos nomes que reprovava, justificando pela falta de opção, contraria a lógica da transformação. Se há algum dano ou prejuízo moral, social ou para a economia do país, não há porque prolongá-lo. Mudar o voto, oxigenar as organizações políticas, higienizar as cadeiras do poder, são ações que contribuem para a cura dos males.

Como em todo o relacionamento, a maturidade na política exige distanciamento emocional. Um sistema político disfuncional exige o emprego da razão na sua análise e na busca de soluções. Os sentimentos pessoais devem ser guardados para um círculo restrito, quando não totalmente evitados. Eles contaminam a opinião pública, deixando-a nebulosa, sem foco, desvairada. Gera uma carga adicional de problemas. Torna-se material para a exploração midiática, e não mais do que isto, alimentando um círculo vicioso.

No plano da comunicação, hoje tumultuada, as lideranças legítimas e o próprio eleitor isolado têm muito a fazer. Melhorá-la, achar caminhos para que adquira eficácia,tanto entre as partes como entre o mundo dos eleitores e dos políticos. Canais de diálogo devem ser descontaminados e novas linhas de diálogo inteligente criadas. Pesquisas constatam que o eleitor sente-se aliviado quando outros falam em seu lugar. Em geral, os comunicadores da área política temperam suas mensagens com dosagens altas de emoção, desobrigando o eleitor da responsabilidade de falar por si.

Por último, como fazem os casais que buscam sanear suas relações, é imprescindível localizar pontos que mereçam ser valorizados. Há, sim, uma batalha ancestral entre o bem e o mal na política, que não findará se não houver a identificação de objetivos comuns a serem fortalecidos e alcançados. O propósito maior sempre será o de uma pacificação que garanta a realização gradativa e tranquila do sonho de um mundo melhor.

Eleitor x Político; cura pela terapia de casal