Um dia antes do último embate da Copa que consagrou a Alemanha, 29% dos brasileiros estavam torcendo pela Argentina. A flagrante, frustrante e fragorosa derrota perante a Alemanha merecia uma revanche. Mas os brasileiros estavam mesmo divididos, pois outra parcela, inconformada com a boa performance dos argentinos, endossou a Alemanha, aposta que deu certo. O restante, na ocasião, também inconformado, escondeu-se na neutralidade.

Bem antes, em junho, as pesquisas mostravam o estado de espírito dos torcedores mundo afora. Os argentinos não estavam tão convictos: menos da metade acreditava em uma conquista favorável a eles (47%). Um quarto achava que daria Brasil (25%). Do outro lado do Atlântico, na Alemanha, o pessimismo era maior: apenas 16% dos germânicos acreditavam poder vencer. Liderava, por lá, a impressão de que a conquista caberia ao Brasil (29%).

Por aqui, praticamente dois terços dos brasileiros visualizavam a vitória (64%) e um décimo previa uma conquista alemã (10%). Os brasileiros viam a Argentina não como vencedora, mas como um sério risco crescente (34%), enquanto a Argentina enxergava o Brasil como um país com futebol bonito (39%).

Excluir-se da Copa significou contrariar a impressão mundial, registrada pela pesquisa em 19 países, de que os brasileiros jogam bem. Ao cair fora, reverteu-se a confiança dos próprios brasileiros na modalidade esportiva que faz parte da identidade nacional.

Acompanhamos o desenrolar da pesquisa com a intenção de conhecer melhor o engajamento dos fãs de um esporte que envolve e encanta multidões. A pluralidade do comportamento das torcidas e a complexidade na decisão de trocar de time na medida em que as eliminações ocorrem, mostram que o futebol é ainda um "campo" aberto e promissor para estudos das ciências humanas.

Prematuro, assim, é tentar estabelecer uma relação entre a campanha brasileira na Copa e com um impacto na outra campanha: a eleitoral. A psiquê do torcedor esteve condicionada à competição em outros sistemas sociais, o do lazer e entretenimento, com forte implicação nas agendas competitivas do sistema de defesa da nação, pela simbologia bélica implícita. Como os sistemas são inter-relacionados, sim, haverá algum rescaldo nas decisões políticas do eleitor-torcedor. Mas é impossível precisar de que forma e com qual intensidade. Pode ser mais racional, num balanço de custo-benefício do evento, ou mais emocional, somando-se as tensões relativas a vida em geral.

O que se sabe é que a frustração se distribui no tempo, ou seja, na curva da memória. Em 30 dias, a coincidir com o início da propaganda eleitoral, o desastre da derrota estará menos presente na cabeça dos eleitores. O declínio na lembrança vai depender da ênfase e das repetições na mídia. Presumindo que uma semana após o término do evento os meios de comunicação já estejam direcionados a outros assuntos, o fato estará aos poucos se encaminhando para ocupar um espaço cinzento da história do futebol brasileiro.

Mais uma queda para os brasileiros que torceram para a Argentina ganhar da Alemanha.