O histórico das pesquisas sobre a eleição vitoriosa de Trump revela que a definição cuidadosa de metodologias, rigorosamente moldadas pelo contexto competitivo, foi decisiva para a existência de previsões acertadas.
Os resultados mais próximos da realidade das urnas vieram dos trackings, acompanhamentos feitos dia a dia, junto aos eleitores, durante todo o período de campanha eleitoral.
A medição diária do comportamento dos eleitores realizada pelo USC Tracking (South California University), baseada em uma amostra bem equilibrada e em cruzamentos de indicadores consistentes, indicou a possibilidade da vitória de Trump. Ela assemelhou-se ao bem sucedido tracking aperfeiçoado e utilizado, eleição após eleição, pelo Instituto Bonilha.
Nas pesquisas norte-americanas aconteceram equívocos, sim, especialmente com as estimativas esporádicas e realizadas com públicos-alvo mal definidos.
Uma das razões apontadas para a ocorrência de previsões errôneas foi a das amostras baseadas no perfil de votantes da eleição anterior. Ignorou-se a mudança, na participação, de segmentos importantes. Por exemplo, diminuiu a de negros e millenials e aumentou a de brancos nas áreas rurais.
No Brasil, pode-se antever que grandes contingentes de eleitores irão esquivar-se das eleições, não apenas pela ausência física, mas optando pelo voto branco ou nulo. Se as pesquisas não estiverem atentas a estes “não-eleitores”, caminharão para desacertos monumentais. Outras alterações de comportamento poderão ocorrer no calor da disputa, com nuances que somente pesquisas diárias poderão captar.
Quem procura informações sobre as previsões da vitória de Trump sobre Hillary em 2016, com base em pesquisas eleitorais, achará as duas versões: estavam corretas ou foram refutadas.
Analistas, para fundamentar explicações úteis para o aperfeiçoamento dos métodos de pesquisa, tentam localizar a causa das falhas e compor teorias a respeito. Nos Estados Unidos, a dificuldade inicial é a enorme quantidade de pesquisas realizadas. Por lá, não há economia: pesquisa-se generosamente. São centenas de empresas e veículos de comunicação acompanhando o comportamento dos eleitores. Cerca de 20 delas, as maiores, conduziram mais de 80 sondagens nos últimos 30 dias que precederam à votação para Presidente.
Diferentemente, no Brasil, as pesquisas eleitorais são monopolizadas por institutos fortemente ligados aos maiores veículos de comunicação. Seus resultados nem sempre chegam aos eleitores, que poderiam contar com eles para uma decisão de voto bem informada.
Entrevistas diárias com os eleitores aumentam a precisão das pesquisas eleitorais. |